Autor: Antônio Carlos Franco / Data publicação: Total Visualizações: 235
O Homem e a Natureza
Ao romper do dia, sentei-me na campina, travando conversa com a Natureza, enquanto o Homem ainda descansava sossegadamente nas dobras da sonolência. Deitei-me na relva verde e comecei a meditar sobre estas perguntas:
Será a Beleza Verdade? Será Verdade a Beleza?
E em meus pensamentos vi-me levado para longe da humanidade. Minha imaginação descerrou o véu de matéria que escondia meu íntimo. Minha alma expandiu-se e senti-me ligado à Natureza e a seus segredos. Meus ouvidos puseram-se atentos à linguagem de suas maravilhas.
Assim que me sentei e me entreguei profundamente à meditação, senti uma brisa perpassando através dos galhos das árvores e percebi um suspiro como o de um órfão perdido.
Por que te lamentas, brisa amorosa? perguntei.
E a brisa respondeu: Porque vim da cidade que se escalda sob o calor do sol, e os germes das pragas e contaminações agregaram-se às minhas vestes puras. Podes culpar-me por lamentar-me?
Mirei depois as faces de lágrimas coloridas das flores e ouvi seu terno lamento... E indaguei: Por que chorais, minhas flores maravilhosas?
Uma delas ergueu a cabeça graciosa e murmurou: Choramos porque o Homem virá e nos arrancará, e nos porá à venda nos mercados da cidade.
E outra flor acrescentou: À noite, quando estivermos murchas, ele nos atirará no monte de lixo. Choramos porque a mão cruel do Homem nos arranca de nossas moradas nativas.
Ouvi também um riacho lamentando-se como uma viúva que chorasse o filho morto, e o interroguei: Por que choras meu límpido riacho?
E o riacho retrucou: Porque sou compelido a ir à cidade, onde o Homem me despreza e me rejeita pelas bebidas fortes, e faz de mim carregador de seu lixo, polui minha pureza e transforma minha serventia em imundície.
Escutei, ainda, os pássaros soluçando e os interpelei: Por que chorais meus belos pássaros?
E um deles voou para perto, pousou na ponta de um ramo e justificou: Daqui a pouco, os filhos de Adão virão a este campo com suas armas destruidoras e desencadearão uma guerra contra nós, como se fôssemos seus inimigos mortais. Agora estamos nos despedindo uns dos outros, pois não sabemos quais de nós escaparão à fúria do Homem. A morte nos segue, aonde quer que vamos.
Então o sol já se levantava por trás dos picos da montanha e coloria os topos das árvores com auréolas douradas. Contemplei tão grande beleza e me perguntei:
Por que o homem deve destruir o que a Natureza construiu?